A natureza do mal (e por que ele é bom)
Por que ele é tão cultuado?
Boa
tarde.
No
filme “O Vampiro no Brooklyn”, Eddie Murphy falou pra mim umas das mais
célebres frases do cinema. Não que ele seja um ator extraordinário (realmente
ele até se esforça, mas não é), mas em uma das partes do filme, ao encarnar um
pastor evangélico, Murphy (que também é o vampiro do filme), ao se dirigir a
sua igreja, que pregava na rua, disse a respeito do mal absoluto, “O mal é
necessário. O Mal é bom.”
Claro
que isso não deixou os fiéis muito satisfeitos (não os do filme, que entraram
em êxtase), mas os da vida real, choveu processo em cima do filme por parte das
igrejas que afirmavam que o personagem utilizava fatos religiosos para induzir
uma filosofia, digamos, satânica. Porém como lá nos states, a liberdade de expressão
é levada a sério, nada aconteceu, só houve gritaria, e isso foi usado como marketing
de um filme bem abaixo da média.
Porém
a citação de Murphy, virou uma anátema, que até hoje é repetido nas redes
sociais onde o maquiavelismo e o mefistofelismo predominam. A maldade é tão sem
limites que sem querer, as redes retiraram uma massa de pessoas das igrejas
(seja ela católica ou evangélica) e nunca se estudou tanto cultos pagãos e
seitas satânicas. Parece até um retorno aos primórdios da selvageria. Se cultua
o lado primal, o grotesco (como lobisomens e vampiros), ser casto ou angelical
(a não ser que você curta o lado negro disso) se tornou totalmente fora de
moda. Ser mal e cruel é o naipe da nova era. Vide Christians Greys, Damon
Salvatore, Voldemorts e por ai vai.
A
real disso tudo é que sem querer, Murphy com aquela sua frase, que parecia
boba, pobre de significado, acertou na mosca. Os malvados tem muito mais chance
de sobrevivência em um mundo cão como esse. É sério. Não dá pra ser bonzinho
atualmente. Por mais que as pessoas queiram cultuar símbolos como o Superman,
acabam preferindo o Batman, por exemplo. Até modificaram o personagem, tornando
ele mais letal e mais sombrio.
A
onda agora é ser um personagem com índole má ou duplicada, exemplos? Precisávamos
de heroínas mais fortes. A Disney criou a Elza (uma princesa amargurada que tem
o poder de transformar tudo em gelo), Malévola (uma fada que foi sacaneada
pelos humanos e se torna uma bruxa malvada, mesmo defendendo sua gente). Outros
exemplos. Soldado Invernal, o melhor personagem da Marvel dos últimos anos (um
cara que teve sua mente apagada e reprogramada como uma arma de combate mortal
e definitiva), Loki (um deus nórdico que é capaz de qualquer negócio, truque ou
enganação na sua luta pelo poder), o Justiceiro (um vigilante amargo, cruel e
implacável, que não tem nenhum escrúpulo em eliminar bandidos) e muitos, mas
muitos outros exemplos.
Bom
são muitos exemplos, mas e a verdade nisso? A real é que personagens cruéis,
malignos, tomados pela raiva e pelo ódio (alguém disse Ikki de Fênix ou
Vegeta?) fazendo o bem são muito mais interessantes que um vampiro Edward (que
piada XD) ou um insosso Stefan Salvatore, e muito mais próximos de uma pessoa
comum, tipo eu e você, no dia a dia.
Intrigado?
Basta pensar assim. O bem não é uma escolha.
O
bem representa a ordem, que se sobrepõe ao caos (recomendo Chaos Theory ou o
filme Caos com Jason Statham, ou Adrenalina (Crank) também com ele...). O bem é
estipulado pelos padrões não somente da sociedade mas da ordem. Sacaram? Fazer
o bem não é difícil, é óbvio. Se eu quiser matar alguém por exemplo, isso
implica em dizer que sou mau. Simples assim. O certo em qualquer briga seria eu
parar assim que o rival, inimigo, adversário, antagonista, cão, demônio ou como
você queira chamar seu oponente resolve pedir arrego, mas se eu não parar,
estarei sendo desumano? Não. A emoção qualificada como raiva, fúria,
ressentimento, amargura ou qualquer coisa sombria e semelhante, justifica meus
atos.
Ou
seja o mal é justificado. As matanças impetradas por carrascos como Lênin,
Stalin, Che (sim, ele também), Hitler, Pol Pot (se bem que essas foram
merecidas), Saddam, Bin Laden...etc. Por
que eles mataram? Por que eram maus e desafiavam a ordem, com isso agindo com
liberdade, até para decidir sobre a vida de outras pessoas. Simples assim. Como
Darth Vader e Darth Sidious por exemplo. Watchmen, a obra prima de Moore, segue
esse mesmo princípio.
Isso
é tão foda que mesmo você que faz questionários no Facebook e se imagina ser o
Capitão América, na verdade na vida real é um assassino, psicopata e bandido,
em potencial. O sucesso de “heróis” nos games como Solid Snake, Geralt de
Rivia, Trevor, Michael e Franklin (ambos de GTA 5), ou Aiden Pearce de Watch
Dogs, reitera esses novos tempos.
A
real é que vou finalizar aqui com um dos preceitos de uma filosofia antiga, a
yoga. O ser humano, não foi feito para seguir a ordem, ela nos é imposta. Ou
seja, quando você lê um livro de Anne Rice (outra escritora mítica dos nossos
tempos) e vê o Lestat, agindo de maneira cruel e desumana ao se livrar de um
empecilho (não precisa nem ser um adversário), é só o seu egoísmo agindo. Na
yoga indiana, como o ser humano foi criado com expectativas e objetivos
diferentes, é posto que seria impossível (crivem nisso) duas pessoas terem
opiniões iguais, mesmo que não sejam teatrais, como Damon e Stefan, por
exemplo. Ou seja o ser humano foi geneticamente criado e desenhado para ser
egoísta. Quem dizer que não é, está mentindo. Está nos seus genes, nas suas
vontades, a ordem imposta nos dá apenas um código a seguir. E só.
Pra
terminar quero deixar claro que não estou querendo criar aqui mais um pedófilo
(ai se um chegasse perto dos meus filhos), um maníaco do parque, um Michael
Myers ou um Jason Vorhees. Só quero deixar claro que reprimir o mal, é como
reprimir um animal que todos temos enjaulado. Como as religiões vão lidar com
isso, na real eu não sei. Mas negar a nossa natureza primal, o nosso lado mais
selvagem, a violência de nossas mentes, no fim nos transformaria em indivíduos
automáticos, que só agem através de ordens, ou seja seria negar a nós mesmos.
p.s.: A criação do bem e mal
absolutos, é puramente ocidental. No oriente, através do Tao e da filosofia do
Yin Yang por exemplo, esse lado sombrio de cada um tem sido estudado há
milênios. Ainda esse ano, vamos voltar nesse assunto.
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