Tool - Ænima (Análise)


De arrepiar, não é?


Bom dia, ou tanto faz, com certeza Maynard pensaria dessa maneira.

Hoje jovens, trago a vocês a obra prima dos anos 90 (uma delas). Ænima. Um disco cru, pesado, extremamente filosófico e polêmico, e tudo resumido numa bolacha (Corgan precisou de duas pra fazer a sua, e a critica dele tb tá prontinha e logo vou postar aqui). Bom vamos aos negócios, sem enrolação.

Ænima foi o quarto trabalho da banda norte americana Tool que simplesmente redefiniu as fronteiras do que hoje é considerado som pesado. Citado por diversas bandas do estilo de Metal Progressivo como Grave Digger, Pain of Salvation, Opeth e outras, o disco simplesmente caiu como uma bomba sobre os jovens da época (um deles falando aqui) e invadiu a saudosa Mtv (deuses, como ela já foi boa) com clipes e mais clipes além de uma banda que falava sem frescura o que os jovens pensavam na época (vide Hush, do Opiate, que só aquele "fuck you" já resume tudo). O cd tinha tudo em um, palhaçadas, vinhetas de circo, partes assustadoras (como o terceiro, "Undertow" já tinha) e letras que iam da raiva a dor, da escatologia a problemas psicológicos (como o borderline) passando até para recadinhos para os cínicos rappers que criticavam a obra dos caras por que os caras eram foda, e estavam enciumados da atenção que a mídia (e com toda razão) deu a esse disco.

Mas pra falar do Tool em si, precisamos retornar as origens da banda e contar um pouco das origens dos caras. Detalhe: todos são geniais. Vou pegar um pouco do que está na Wikipédia, pois não há muitas informações sobre a banda (eles tem um cuidado muito grande com a privacidade), mas podemos nos basear ali. O Tool é uma banda formada em 1990, garageira, da cidade californiana de Los Angeles (que eles amam e odeiam), a atual formação conta com Maynard James Keenan, nos vocais (gênio e eixo da banda, e um dos melhores músicos do rock alternativo), o guitarra e técnico de efeitos especiais Adam Jones, o baixista Justin Chancellor (o mais acessível entre eles) e o puta baterista Danny Carey, que meio que uniu todos os outros. Como todas as bandas de garagem, o Tool também teve um padrinho forte, e ele era nada menos que Tom Morello do Rage Against The Machine (tanto que existem alguns videos do inicio do Tool com o RATM, eu mesmo tenho um deles), mas logo os caras deram o recado que ali não estava uma banda para abrir shows de mitos, mas sim ser um deles.

Após pegarem impulso para voar sozinhos, ninguém segurou mais os caras. Não demorou muito e o primeiro cd demo (hoje uma raridade pra colecionadores), Tool, mostrar um novo conceito de rock alternativo e progressivo (claro com letras EXPLICITAS). Os temas da banda falam da terapia da dor pelas lágrimas (algo como lacrimologia), religiosidade e espiritualidade (tema predileto de Maynard, seja com ele soltando a caixa de ferramentas ou apenas fazendo uma reflexão) e sexo (sem medo de ser feliz). Maynard e os outros brincam com temas sérios (tiram sarro sem dó) e nessa salada entra jesus, mulheres com pênis de borracha, violência na tv, guerras e o que mais vier de mais esquisito e não musical (mas que dá certo, acredite).


A banda na época do cd

Bom vamos a análise música por música. O cd começa com "Stinkfist" (algo como punho fedido), que foi um clipe cheiro de polêmicas. Primeiro a saudosa Mtv, não quis passar o nome da música (eu as vezes não entendo os americanos), e censurou o clipe (inclusive partes dele) que recebeu prêmios (Maynard foi um garoto que viveu em uma família extremamente religiosa, a mãe teve diversos problemas de saúde, e teve uma educação muito rígida, o que fez que o cara na adolescência invocasse o pirocóptero (vcs entenderam, eu sei e por isso o maluco meio que se tornou um artista em um famoso colégio de arte, o que fez que ele trazesse essa veia para os clipes da banda, o que foi um puta sucesso). A música basicamente fala de sexo, do coito em si, e da selvageria causada por ele (Maynard fala muitas vezes de temas fortes sem ter que realmente ir a eles), nada unusual mas na época era realmente tabu já iniciar assim...

A segunda música "Eulogy", Maynard fala exatamente de Jesus Cristo (aliás Jesus é um dos temas prediletos dele, mas ele trata o cara como se fosse o velho Crom em cima da montanha, coisa que ele já tinha feito em "Opiate", grande sucesso, onde ele critica a necessidade da religião, e a pressão feita por esses grupos) deixando bem claro que o cd não é para todos os ouvidos. 

A terceira, "H.", já é mais pessoal, tipo uma olhada no espelho pra ver como estão as coisas, e ver que não estão nada bem. Só pra voltar ao título do disco, Ænima significa "limpeza completa dos inimigos" (há outros significados, BEM PIORES do que esse, mas esse foi o que eu achei mais adequado, ainda mais com a fusão de Enema e Æon, quem quiser, dê uma olhada na Wikipédia) e quando eu digo inimigo, estou dizendo de tudo. A idéia do cd é chutar os quatro paus da barraca, por fogo e ficar lá pra assistir, é raiva pura, sem por nem tirar. E o show é que o personagem criado por Maynard, fala isso como se fosse uma oração, um mantra, fica evidente a influência religiosa, mas vamos em frente.

Quarta música, "Useful Idiot", é uma vinheta e preparação para uma das melhores músicas do disco, "Forty Six and Two", que fala de transformação, da parte "sombra" do inconsciente e demonstra a força do indivíduo executando essa mudança em si mesmo. Só algo a acrescentar aqui. "Useful..." já deixa claro que o personagem busca libertação, e esse lado sombra (algo como um Máskara empurrando e querendo pular pra fora), empurra o personagem na direção de suas paixões, seja pra matar, para mentir, pra iludir se necessário, ou seja OS FINS JUSTIFICARÃO OS MEIOS...ou seja é Maquiavel puro. Curtam.

"I choose to live and to grow (Eu escolho viver e crescer)
Take and give and to move (Pegar, dar e mover)
Learn and love and to cry (Aprender a amar e chorar)
Kill and die and to be (Matar e morrer para ser)
Paranoid and to lie (Paranoico e mentir)
Hate and fear and to do (Odiar e temer e fazer)
What it takes to move through" (O QUE FOR NECESSÁRIO PARA IR ADIANTE...)

(Eu até animei com essa música...e deixei tocando hehehe)

Vamos em diante. Vem mais uma vinheta, "Message to Harry Manback", que basicamente é uma porrada de xingamentos em italiano, e mais uma crítica sem dó a sociedade norte americana (qual é a melhor maneira de você abrir os olhos de alguém...tratamento de choque é claro, é aquela história, vc não combate as coisas se vestindo de branco e soltando a pomba da paz, é uma constatação humana msm...deixo a reflexão pra vocês) que antecede a melhor música do cd "Hooker With a Penis".

Essa música é um cala boca geral. Psst. Maynard solta a real aqui e põe a galera que se acha só por que conseguiu um "tal posto de conforto" e deixa claro que nós todos não somos nada além de poeira cósmica. Ou seja você amiguinho que se acha por que tem um carrão e roupas da moda, saiba que NADA difere você de um mendigo da Rodoviária de Brasília, ouviu? Nada. Somos todos iguais, e mesmo que seus pertences sejam adorados (e sei que o são), não se chega ao sucesso sem sofrimento, e que todos nós temos uma estrada a percorrer. Ao dizer para um bodinho fdp desses "I sold my soul to make a record, dipshit" (nem vou traduzir), ele traduz o que muitos artistas tiveram de sofrer pra chegar ao sucesso...sem mais.

"Intermission" é mais uma vinheta que precede "Jimmy". Claramente continuando o assunto de "Hooker...", Jimmy mostra o day after, o month after. Uma coisa interessante sobre Maynard é que ele criou confusão com declarações sobre o Nirvana (curiosidade aqui), tb pudera. Maynard teve pais que o levaram a uma educação militar, por isso ele meio que abomina a fraqueza (ele muda um pouco no Lateralus onde já começa a pregar o desapego como mantra em "The Grudge"), então claramente Jimmy é uma letra a favor do sofrimento, não importa o que ou que carga tenha e contra o suicídio (Maynard chamou Kurt de fraco seguidas vezes, por ter dado cabo de sua vida, a crise foi tanta que até Krist Novoselic se tornou meio que um desafeto do cara).

"Die Ever Von Satan", é outra vinheta, que na verdade é uma receita de bolo em alemão que parece ditada num discurso do próprio Hitler, mas é uma brincadeira. Precede "Pushit", que fala basicamente as idas e vindas de um relacionamento com tudo que engloba as partes, nessa música Maynard passa de acusador a acusado e mostra aqui o lado da acusada (o personagem da música é feminino) que diz estar sendo empurrada pra fora do mundo do cara (o personagem principal) e usa todas as armas (sendo o amor como uma delas) pra de fato fazer o cara refletir.

Começa a preparação para a música do disco. "Cesaro Summabilitity", a prequel já começa a te preparar para o que vem em seguida....Ænema.


Eis o fim da viagem crianças


Se até agora você tiver achado o cd espetacular (por tudo que foi apresentado), você não perde por esperar pelo que vem a seguir. (e ponha bem alto). Ænema quebrou todos os recordes de visualização na Mtv na época e ainda hoje é considerada uma (ou a melhor) música dos anos 90. Pra falar no básico, Maynard narra a destruição de tudo o que é conhecido, com fogo, enxofre, e água, muita água. Quase como um Orson Welles ele simplesmente detona sozinho toda a "estrutura" que a tv (qualquer semelhança com o funk carioca atual é mera coincidência) e a mídia construíram em torno de heróis feitos e construídos de lama e barro. Tudo em cima de uma música cabulosamente bem executada, em todos os termos técnicos conhecidos, é pra ouvir muitas e muitas vezes (recomendo em todos os momentos de raiva) e põe literalmente tudo em seu lugar ou nao deixa pedra sobre pedra.

O clipe em si é uma aula. Ao mostrar um gordinho que representa um aristocrata, um ricaço, brincando com a vida de dois seres, duas criaturas que meio que estão destinadas a dar a ele um destino não muito bom (por que se reproduzem como coelhos), deixa você de todas as formas, menos alheio. A letra de Maynard, um total fuck you para tudo que é conhecido, deixa a atmosfera de total armagedom ainda mais evidente. É como se você enterrasse alguém sem vaselina, sem cuspe, sem dó, dando pázadas na cara do infeliz e lembrando a todo momento que ele não irá voltar nunca mais. É um basta msm. Não recomendo essa música em momentos de total fúria pq acredite ela vai te impulsionar a matar alguém, e sem remorso.

"- (ions)", é uma preparação para a viagem final, "Third Eye". Third Eye na letra fala de drogas e que sem elas não teria sido possível fazer nada no rock n roll, o que é bem aceitável. Mas vamos ao final disso. Como eu disse Ænima é um cd conceitual. Maynard fala de um personagem em todas as letras e como esse cara, enxerga o mundo, Third Eye é o fim da viagem, após a limpeza o personagem está pronto para mais uma vez se entregar aos prazeres do mundo (sério é isso ai) e com isso a viagem reinicia (não vou fazer a apologia mas ela existe sim). Um final abrupto mas adequado que de final não tem quase nada.

Ænima ganhou o Grammy e diversos prêmios pelo mundo (tanto que a partir daí o Tool ganhou o título de art rock como Lou Reed e Grateful Dead, ganharam a partir desse cd. Vou deixar mais um endereço com uma das melhores músicas do disco pra terminar "Forty Six and 2", e toda a idéia de evolução que Maynard clama nessa letra. Até a volta.



p.s:  Deixo aqui minha última crítica de hoje, que o Facebook crie um mecanismo de anonimidade para as fotos de entrada. Ontem fiz uma experiência e vi que tudo que vc posta tem a obrigação de mostrar (nem todo mundo gosta disso), o que torna as mudanças na rede social muito chatas (o g+ por exemplo já respeita isso), fica aqui a minha reclamação.

p.s.2: A todos os meus amigos da galera do colégio Elefante Branco, de 1996. Vcs sabem quem são.

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