Live by the sword
Boa noite. Este post é pessoal.
Já escrevi resenhas sobre vários filmes e citei aqui
inúmeros livros, porém sempre que posso escrevo sobre as coisas que acontecem.
E eu poderia fazer aqui um salve as bobagens racistas que estão na mídia
ultimamente, mas dessa vez eu resolvi do alto de mais uma de minhas crises
existenciais (sim isso também acontece em pessoas mais velhas, cada um resiste
e enfrenta as intempéries da vida a sua maneira, eu escrevo, essa é a minha)
escrever sobre o filme Rurouni Kenshin, um dos melhores que já vi nos últimos
tempos e com certeza vou pro cinema assistir o segundo.
Quem é velho na área de mangás e animes com certeza conhece
o personagem. É velho conterrâneo da terra dos olhos puxados e tem com certeza
uma das melhores histórias dentre os mangás, a história de um mito chamado
Hitokiri Battousai (algo como assassino do governo matador de mil homens), que
após uma vida inteira de mortes e batalhas aparentemente sem nenhum sentido, resolve
se retirar do ofício após a oportunidade de mudança ocasionada pela queda dos
samurais e a mudança de era, da Tokugawa, dos shoguns e senhores feudais para a
era Meiji, controlada principalmente por influências externas vindas do
ocidente, e caracterizada por uma falsa paz e controle absoluto das massas.
Um puta cenário, não acham?
Pois é, o nosso herói (na verdade o anti-herói mais fdp da
história dos mangás, assassino procurado, respeitado e temido) que foi radicado
na arte de matar pessoas resolve após uma última grande batalha, forja sua
morte e reaparece anos depois, após anos de exílio, como um andarilho comum
(daí o nome Rurouni = andarilho) em
um Japão completamente diferente, os samurais morrem a míngua
nas ruas, o Estado tem um tipo de segurança própria e por orgulho alguns ronins
exibem ainda suas armas, mas tem de obedecer a uma autoridade superior e não
possuem o poder de vida e de morte que possuíam há anos atrás, tendo que seguir
cegamente (bem, nem sempre) as novas regras.
Mas depois de anos de retiro espiritual o Battousai se
encontra completamente mudado. Apesar de carregar em si o peso do passado,
recuperou a calma e a paz perdida e hoje caminha anonimamente em meio as
pessoas, sendo ele o real responsável por seu destino. Isso até conhecer um
dojo perdido, estranhamente o mesmo dojo responsável por sua técnica que era
utilizada antigamente para retalhar pessoas e que hoje possui um novo sentido,
que se assemelha ao ideal (e só ao ideal) da polícia atual de servir e
proteger...o que vai completamente em dualidade com o seu passado sombrio, de
sangue e pouca glória, tampouco honra. E nisso o filme transcorre.
O que vai sendo mostrado na tela é fantástico. A dualidade
aparece quase em toda a extensão das duas horas mostradas na película. E o
ideal dos samurais vai sendo triturado pela visão cruel da realidade a cada
instante, um verdadeiro muro que divide de maneira suave (o filme caberia
tranqüilo na sessão da tarde, mas sem nunca perder a sua essência) o céu e o
mais profundo inferno. Claro, isso também dá vazão a um pouco de humor
ocasional em meio a tudo isso, mas feito de uma forma que não retira nunca o
lado épico e sombrio que envolve o filme.
Claro, agora vem a parte em que trago um pouco disso para a
realidade.
Na verdade a história de Kenshin é filosofia pura, puro
existencialismo, sem por nem tirar. Recomendadíssima, principalmente por
pessoas que precisam de uma nova visão ou por suas vidas em ordem. Pra quem
acha que mangá é coisa de criança a história corrobora a vida de muitas pessoas
da atualidade e que já se foram (eu poderia citar caras como Ayrton Senna,
Steve Jobs, Fernando Alonso (sou fã confesso dele) e muitos outros) que um dia
tiveram tudo retirado de suas mãos e que juntando suas cinzas, se reconstruíram
como a Fênix da mitologia e mesmo não tendo as melhores ferramentas para o
trabalho, conseguiram ascender pela própria glória e seu esforço.
Some days,
some nights, in the way of the samurai. Até o próximo post.
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