Batman V Superman - Crítica

“A impotência é o que transforma homens bons...em cruéis”.

                Essa frase do Alfred, interpretado por Jeremy Irons, é o que permeia o filme Batman V Superman – Dawn of Justice que estreou tem algumas semanas nas terras tupiniquins. Muitas críticas sobre o filme foram feitas, algumas com esmero, outras tentando comparações com a Marvel, eu vou fazer diferente.
                Vou comparar esse filme da nova DC com a antiga DC, passando pelos desenhos da Warner e seriados que servem de preparação. Só pra começar, BvS é bom sim, e chego a dizer que pode até tentar uma esticadinha no Oscar, Eisenberg e seu Luthor por exemplo.
                Começando pelo roteiro (tem spoilers), é bem construído, por um craque dos tempos do Nolan, David S. Goyer e Chris Terrio de Argo. E foca claramente no Batman, mais precisamente em um Bruce Wayne descrente da humanidade, como nunca vimos. Fora o drama que envolve o morcego, a repetição da cena de Batman Begins, temos um morcego vingativo e bem mais emocional.
                Depois que a Torre Wayne é destruída, Wayne culpa o Superman por trazer a guerra até os cidadãos (será essa a real desculpa da Guerra Civil?) e decide que um deus não poderia viver entre nós mortais nesse planeta frágil, ele tinha de ser detido.
                Dentro desse clássico de que as pessoas temem o que não entendem, o filme segue. E daí começa uma espécie de opera com contextos bem dramáticos que envolvem os personagens principais.
                Cavill entrega aqui o Kal-El definitivo. Ao assistir me lembrei do saudoso Christopher Reeve, na eterna tentativa do alien que tenta ser humano, na figura de Clark Kent. Mais à vontade que no primeiro filme, o personagem ganha textura e jeito de gente grande. Emocional, acaba por cair na guerra de nervos de Wayne, e a dança entre os dois é o ponto alto do filme. Ponto crucial também para o crescimento de Lois Lane. A branquinha arrasa, e poderia facinho arriscar uma melhor atriz coadjuvante se os filmes sucessores desse ano não forem melhores. Destaque também para o Perry de Laurence Fishburne, me lembrou muito o JJ Jameson.
                Do outro lado temos um novo morcego. Afleck realmente impressiona, para quem achava que ele não daria conta do recado. Em momento algum ele supera Chris Bale, mas o seu Batman mais tiozão, e mais fora da lei agrada e muito. A idéia de cansaço, e descrença na humanidade combinam com essa nova roupagem. De quebra, ele entrega o melhor Bruce Wayne, inspirado claramente na série animada, sério e sisudo com pouco espaço para piadas. Em ação, essa filosofia to-nem-ai fica clara, a brutalidade com os bandidos lembra o Justiceiro, fora o tabu que cai do morcego não usar armas. Irons como Alfred também se mostra um coadjuvante de luxo, mais militarizado e menos mordomo (nada da elegância de Michael Caine) e faz bom uso de seu sarcasmo.
                No terceiro grupo, vem aqui o personagem do filme. Lex Luthor. Jesse Eisenberg constrói um Luthor mais rato de laboratório, manipulador e político. É ele desde o início que encampa a briga entre os heróis e pode se dizer, o responsável pela formação da futura Liga. Jesse demonstra que a inteligência quando usada de maneira criativa, pode ser um perigo sim e é responsável pelas melhores cenas de ação do filme, agindo indiretamente nos bastidores a cada confusão criada (alguém lembra do Loki?), sem escrúpulos, usa qualquer expediente para o controle, seja jogar a Lois do alto do edifício ou sequestrar a mãe do Super, por exemplo e fica fácil fazer um parâmetro com a atuação de Heath Ledger como Coringa, devido a sua ansiedade e monólogos enigmáticos. O que joga mais um plus sobre como Jared irá dar vida ao seu personagem em Esquadrão Suicida. Sua assistente, que depois se revela como a Mulher Maravilha, por incrível que pareça, sei que vocês vão me crucificar, é o ponto baixo do filme. Gal Gadot faz uma Diana Prince guerreira, com habilidades em espionagem, gostosa e se aproveita da veia mulherenga do Bruce de Afleck (também do desenho, lembram?), mas fora a chamada para seu filme solo é uma atuação minimalista (culpa do roteiro apressado, talvez), e só brilha no final “épico”, sendo ofuscada pela Lois Lane, quando os heróis se unem para enfrentar a versão de Snyder do Apocalipse, meio Zod, meio Frankenstein. E fica a interrogação de por que ela não tentou evitar o quebra pau dos dois personagens principais.
                Aliás esse é o ponto alto do filme. Muitos diriam que a luta não seria possível, mas graças a uma trapaça bem sacada do Batman, o quebra pôde rolar. E é épico, na chuva, me lembrou muito o confronto entre Neo e Smith em Matrix Revolutions, bruto como tinha de ser. Afleck tenta mostrar uma veia dramática depois, mas não é a dele. Aliás ponto para Snyder ao mostrar a fragilidade dos heróis (Afleck e Cavill chegam a quase chorar em algumas cenas), ao melhor estilo Watchmen. Você já viu isso em algum filme da Marvel?

                No frigir dos ovos, BvS pra mim leva uma honrosa nota 7. O filme é arrojado, profundo (tomara que Nolan entre nesse time), sim com falhas (a cena do capitólio me lembrou o péssimo Superman Returns), mas no fim o saldo é positivo. E me deixaram ansioso para um filme do Aquaman (a cena realmente agrada), e do Cyborg (provavelmente o mais sombrio de todos). E cumpre a função de ser um prequel para a Liga, que venham os filmes que a antecedem, e seja bem vinda de volta DC, o cinema agradece.

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